quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sobre Rosas.. e seus espinhos...

Das Rosas, só restam os espinhos

Ando sim, caro amigo, entristecido
com o coração enegrecido e o paladar
desgastado
Não vejo na vida a mesma graça
nem no caminho traçado,
nem no sem fim da agonia
eu me encontro, perdido, atordoado.
E me disseram que a vida é jardim
aonde floresce o amor e o pecado
em meu jardim digo agora
floresceu o bem abençoado
a mais rubra das rosas.
Envaidecido, e atordoado
reguei-a, cuidei totalmente aplicado
a tuas vontades mais sinceras
e a tuas fúrias mais desvairadas
enquanto a beleza da rosa, me cegava
Então, meu caro companheiro, ergo agora esse copo, para brindar a minha insatisfação!
Porque a beleza e o perfume da rosa, agora já não enfeitam o meu jardim.
Existem outras rosas muito belas, mas não sei se a beleza destas
pode clarear o meu caminho
e hoje sei que o que eu mais amava em minha linda rosa
era quando eu não me feria em teus espinhos...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Carta para Lennon

Como eu queria que você estivesse vivo, John!
Quem sabe agora, não se sentaria comigo, pra tomar uma cerveja
E responder tudo o que me atormenta
Afinal, você imaginou um mundo sem guerras, bebeu e usou tudo o que tinha direito
Achou a Yoko. Ficou com ela e teve o Sean. Ainda sim, você imaginava e pedia paz para todos
Eu sequer tenho paz cara. Nasci quase dois anos depois que você migrou pra Luz. Cresci te admirando, sendo certas vezes comparado com você, por causa dos meus óculos e meu cabelo. Aprendi a tocar piano por conta de Imagine. E quantas vezes da minha vida pedi uma passagem pra correr. Minha história se tocou na sua lenda.
Sabe, por mais lisérgica que possa ter sido a sua época, ela não é hipócrita como a minha. Eu não tenho Paul, Jorge e Ringo, tenho o Marcelo, Daniel e um cara que nem conheço direito pra dar pancada na bateria. Também não sei escrever, ou cantar como você. E não consigo imaginar o mundo melhor.
Faço a minha parte, sou sincero. Não jogo com as palavras ou com as pessoas, e tanta gente me toma por falso moralista. Eu sou um hippie em tempos de yuppies. Acredito no respeito e no amor, embora sequer tenha visto o primeiro e o segundo fugiu de mim. Falta competência?
Já me olharam nos olhos Lennon, e disseram que não acreditam que eu possa mentir olhando nos olhos, mas não depositaram a fé em mim, não sei se por medo, ou se por pena.
Tive várias Michelles, e uma só Yoko, que mudou completamente meu jeito, minha percepção e minha vida como um todo.
Sabe cara, eu não entendo nada sobre o meu mundo, e sei mais do seu tempo, da sua trajetória do que da minha própria. Escuto sua voz todo dia, enquanto trabalho e estudo.
Uma das grandes maravilhas do mundo atual meu caro, é o mp4. Tenho toda a sua obra e cada pedaço dela é a trilha sonora apropriada pra minha vida.
Bom, meu grande herói, agora vou me despedir. Estou tentando falar com a minha Yoko novamente. Let it Be.... John...

Sábado em um bar...



E lá pelo décimo cigarro, ela veio até minha mesa, e fez uma pergunta totalmente inusitada. Passara a noite inteira recusando as investidas de todos os que estavam no bar.
Loira, um metro e sessenta e no máximo cinqüenta e seis quilos. O perfume era dos mais comuns, mas adquirira um significado etéreo no pescoço alvo e sensual daquela senhorita. No pulso direito, pulseirinha com pingente de peixe. Nos olhos, uma sombra levemente esverdeada. Na boca, batom leve e muita atitude pra dizer o que queria.
- `Posso? – perguntou já tirando meu maço de cigarros da mesa e sacando um cigarro.
Acendeu o cigarro, o primeiro trago, e a pergunta. – Você está sozinho? Respondi que sim, também acendendo um mentolado. -Você esta sentado ai, bebendo, seus amigos circulando pelo bar, inclusive mexendo comigo. Por que você esta tão pensativo? É casado?
- Bem, a minha onda acabou. Andei bebendo por todo o dia, e estou um pouco entediado agora, afinal o que pode acontecer num bar à noite?
Ela girou a cabeça pelo bar, analisando todos os homens e mulheres.
- Tanta gente procurando o prazer, a satisfação e a aventura, nesse que talvez seja o lugar mais propício para se voltar acompanhado pra casa, ou mesmo se embriagar e dizer vantagens que não se tem, querendo conquistar algum tempo de euforia carnal, e você se senta, bebe, fuma e não interage com ninguém? O que te ocorre pensador?
- Compartilho de suas idéias... De certo, nada melhor que sentir-se desejado, e ser objeto da felicidade de alguém que sequer conhecemos direito. Em um mundo tão cruel, é um ato de benevolência egoísta dar-se a qualquer pessoa. Comprar seu lote no céu através da volúpia! Um brinde as pessoas assim!
Foi esse o momento da transfiguração da garota. De súbito, lançou-me a pergunta:
- Não me acha atraente? Não gostas do que vê? Porque é o único que não me cobriu de elogios e galanteios nesse bar?
- Pura e simplesmente, porque não precisas das minhas palavras. Já ouviu de todo mundo o quanto és linda, fizeram todas as piadas, todos os gracejos, eu sequer tenho algo original pra te dizer no momento. Serve de consolo se te disser que dou validade a cada cantada que você recebeu essa noite?
Ela riu, soprou a fumaça em meu rosto e me disse. – Não, não serve a menos que você vá embora comigo.
Pagou a minha conta, puxou-me pela mão bar afora, enquanto todos olhavam com inveja. Entramos em seu carro, rumo a um bairro de luxo da cidade.
O portão verde e imponente da casa se abriu. Entramos pela garagem, o carro parou. A porta do carro aberta, ela sai, eu também. Entramos pela cozinha, branca, bancada de mármore ao centro, ofereceu-me um café e um conhaque. Aceitei prontamente. Debruçada sobre a bancada com o decote como destaque, meus olhos passearam de maneira mundana por tão belos montes.
- Agora me olhas com desejo. E sei que me queres. Fato. Sinta-se orgulhoso, pois foi você quem arrecadou o prêmio da noite.
E qual homem, mortal não daria o sorriso que dei de canto de boca, pensando na excelente história para os amigos e amigas no dia seguinte? Verdade seja dita, meu ego sentiu-se como a muito não sentia. Eufórico, tomei o conhaque, e toquei-lhe a boca acolhedora e profana.
Um misto de decepção, fúria e desejo percorreu meu corpo já tão cansado pelas horas de boêmia dos dias anteriores. Toda a bebida consumida anestesiou a dor de tantos acontecimentos. A cor do ambiente transmutou para um vermelho e a sensação exata era de pular do alto de uma montanha rumo ao chão distante. Dar-se a vida novamente.
Então, como num passe de mágica, um velho filme me veio à cabeça. Ali mesmo, no meio da cozinha da linda estranha, eu pude ver um copo muito semelhante ao que Ela mais gostava. Esse foi o gatilho para separar minha alma do corpo. O corpo funcionava ferozmente, ainda mais efetivo, no entanto a alma entrava em retrocesso.
Já na rua, voltando pra casa a pé para aproveitar as primeiras horas da manhã, o troféu vinha constantemente em minha memória, e a expressão de surpresa dos meus amigos da noite quando fui selecionado vencedor do evento da noite, conseguia me animar um pouco. Teria muito para contar logo mais.
Mas a sensação de que minha alma ainda não havia voltado continuava. E um nó na garganta me acolheu subitamente. Parei no posto de gasolina e abri mais uma lata de cerveja. Eram sete e meia da manhã.