terça-feira, 22 de junho de 2010

Esse veio de um sonho que tive hj a noite

Dia 20



Nefasto, dia cinzento
E da cor do céu refletia
Por sobre aquele cortejo
Farpas de ilusão ,nostalgia
Eu quis olhar mais de longe
O caminhar tão pesado
Tem tanta gente seguindo
Mas não há ninguém a meu lado
Ouço os passos que tocam o chão
O som gorjeado dos pássaros
As preces de meus amigos
Ecoam no tempo e espaço
Resolvo me aproximar
Não há ninguém a meu lado
Eu reconheço meus primos
E moças de olhar assustado
Gente que há tempos não via
Portando olhar consternado
Ao fundo a montanha desenha
Um nefando e soturno cenário
O mármore cru refletia
A verdade do céu acinzentado
Enquanto o cortejo seguia
Eu ia de encontro aos primeiros
Tem tanta gente seguindo,
Mas não sinto ninguém a meu lado
Então de repente percebo
As mãos que seguram a urna
Na frente meu irmão e meu tio
Atrás meu pai e o vigário
então desceram a urna
meus pais choraram sentidos
e os meus amigos falavam
tem tanta gente rezando
mas não sinto ninguém a meu lado
até que enfim percebi
enquanto o caixão descia
eu percebi quem jazia
na hora em que a urna desceu
então assustado eu via
que o corpo ali, era o meu....

Até que a sanidade se vá por completo....

Até que a sanidade se vá por completo....

O mesmo movimento. Levantar o copinho, levar até a boca e disparar a pinga o mais rápido possível. Sem caretas. Ignorar o limão ou o sal, porque você não quer que seja bom, você quer ser sedado.
Na virada de uma dose de cachaça, consigo repassar toda a minha vida nos últimos 3 anos. E que belo exemplo de ser humano eu fui. Abri portas e delas saíram coisas que sequer poderia imaginar. Fiz tanta gente chorar, e tanta gente sorrir. Passei por cada coisa, tanto desaforo e tanta demagogia. Eu vi, eu fui, e cá estou. Todos os flashes da minha vida em 3 segundos.
Sentado aqui, eu vejo gente que entra no bar, que sai, vejo quem eu quero, e quem eu não quero. Vejo quem quero ver que me veja, e rezo pra não ser visto. Engraçado aonde a vida me colocou. Eu cumpri minha missão, comecei a trilhar um caminho diferente, e em uma grande reviravolta da vida, caio no mesmo lugar, pra mais 3 anos.
Aqui, eu enfrentei meus maiores desafios, tive as maiores conquistas, e hoje, especificamente hoje, vejo aquele paraíso que todos adoram se tornar meu inferno. Conheço todos os bêbados, sou conhecido por todas as vagabundas, todos os professores, por gente inteligente e gente que não deve ser gente mas se parece muito. Vejo crescer minha popularidade. Semeio o que tem de bom pra ser semeado, e na medida do possível arranco certas ervas daninhas, danadas.
Então, quando me vir sentado novamente no balcão do bar, evite comentários do tipo, nossa... esse cara bebe pinga como ninguém. Não é verdade. Quando a sanidade começa a ir embora, aqueles são 3 segundos que me fazem ver o que fiz de bom e o que fiz de mal. É uma reflexão. Vim, vi e venci. Até na derrota, você pode ser um vencedor em potencial. Quem vence a morte duas vezes, merece seu paraíso de 3 segundos.
Até que a sanidade se vá por completo...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Herói ( escrito em março de 2009)

E eu fico ali, parado na janela, olhando pra metade de uma lua que brilha no céu
Eu penso, se você ta com fome, se ta com frio,
Se fez suas tarefas, se comeu direito
Se tomou seu remédio na hora certa, ou se bebeu por cima dele e estragou um tratamento.
Se está voltando tarde pra casa, sozinha, se na hora de deitar, se cobriu direito.
Quando fica triste, e me procura, eu já tenho escolhidas as palavras pra fazer o seu errado o certo, da sua tristeza, alegria, dos seus pesadelos, apenas pedaços de tempo em que você ficou longe da realidade que tento fazer a mais doce pra você .
Quando tem vontade, eu tento matar . Um docinho, um salgado, uma bebida, um verso.
Quando tem dor, e estamos sem dinheiro pro remédio, deito do teu lado implorando pra algum deus tirar essa dor de você e passar pra mim, porque mesmo me contorcendo, quando olho sua carinha de quem está bem, tenho meu bálsamo.
Se some por cidades diferentes, ou lugares em que não poderei estar, minha ansiedade vem do fato de temer que alguma coisa te aconteça. E quando me chama de chato, tento entender, afinal, é ruim ser assistido com tanta cautela por alguém que não seja pai ou mãe.
Se tem fome, o que graças a Deus não acontece com freqüência, grana curta, eu deixo o cachorro quente e o refrigerante pra você, e vou dormir com a barriga roncando, pelo simples prazer de te ver com o canto da boca sujo de maionese e pela expressão de satisfação no seu rosto.
Eu procuro estar sempre no lugar certo e na hora certa, como um cachorro vigilante, daqueles das montanhas geladas que salvam esquiadores.
Engulo o choro. Estufo o peito e finjo que sempre ta tudo bom, ou tudo bem. Não é pensar mais em você que em mim, eu só quero ser o seu super herói... sempre....

terça-feira, 8 de junho de 2010

poema de 2007, feito em guardanapo pra menina em bar...

Ansioso... espero horas e horas
Do brotar ao desmantelar das rosas
Soturnas flores belas que se partem
Então de repente percebo
Relutante absorto em medo
Que horas não passam e rosas não nascem
Então como se o mundo inteiro parasse
Volto a esperar você
Antes da lua crescente, tinha um coração descontente
Quero caír em tentação dessa vez
Sussuro seu nome como se cantasse
Uma música rara e difícil de esquecer
Quero matar mais rosas, entorpecido a horas
Sentir minha razão enlouquecer
Procurando versos e esculpindo sonhos
E desses ilusórios sonhos sonhar em ter
E entregar-me insano a nossas vontades
Conquistar o mundo... fascinar você...

O tamanho de um Homem

E que tamanho tem um homem?
Tem o tamanho do amor pela mulher que ama
O tamanho da duração das tentativas
E do sonho que sempre teve
Só muda de tamanho, quando deixa
Ficando pequeno como uma laranja
Ou grande como um dinossauro.
Afinal que tamanho tem um homem?
Ele passa pelo buraco de uma agulha,
Se arrasta por debaixo de uma porta
E tromba de frente com o Cristo Redentor
Troca lâmpada em poste,
Se afoga numa conversa afiada
Nada depois numa lágrima.
Constrói teu lar com cinco grãos de areia
Se aquece com uma vela
Depois destrói um castelo de gigantes
Entende? A vontade do homem determina teu tamanho
e sempre é mais difícil pisar em gigantes, que em gnomos...

sábado, 5 de junho de 2010

O dia em que paguei a conta pra alguém muito mais rico que eu

Era quarta-feira. Depois de um estafante dia de trabalho, com repetidas horas de diplomacia verbal, sorrisos forçados, do café ralo e doce (tática das grandes empresas para um maior rendimento do pó de café, não muito inteligente, pois o açúcar não anda tão barato assim), da secretária de voz fina batendo toda hora na porta de sua sala pra anunciar seus clientes.
Costumeiramente, gosto de sair quando todos já se foram. Na terceira gaveta da minha Workstation, lá no fundo, fica guardada uma uisqueira de aço inox, presente de amigo oculto do pessoal do serviço, que sempre tem em seu interior o cachorro engarrafado, melhor amigo do homem, segundo o sábio Vinícius de Moraes, terapeuta sexual de todo brasileiro dotado de cultura e altos índices de libido literária.
Depois do farto gole, uma balinha de menta, pasta pendurada como todo bom professor costuma carregar, entrei no elevador. Trabalho no oitavo andar de um grande edifício na Avenida Afonso Pena, próximo ao Palácio das Artes. Geralmente voltaria para casa a pé, moro perto do serviço, no entanto, essa quarta feira em particular estava difícil de engolir. Muitas memórias da minha recém terminada vida de estudante no interior voltaram com força e tiraram qualquer possibilidade de sono. Eram 19 horas. Caminhei até o ponto de ônibus, embarquei rumo a Savassi. Destino certo, o piano bar em que eu tocava como pianista convidado duas quintas feiras por mês.
Mas era quarta-feira. Dia da semana internacionalmente conhecido como dia morto. Ainda mais quando chove. E choveu o dia inteiro. O asfalto molhado, o clima levemente frio de maio e o céu avermelhado anunciando uma nova chuva tornaram o glamour da região em clima de filme noir. Bar adentro três casais, sentados em mesas remotas do bar. Resolvi tomar acento em um banco diferente do que sempre me sentava dessa vez bem longe do piano, no balcão.
- Boa noite Lazzari,
- Boa noite Jorge.
Jorge era um senhor simpático, com seus cinqüenta anos, casado, sem filhos, sempre cordial. Serviu-me sem demora o campari com laranja, o potinho de amendoim e a cachaça de Jequerí, que costumeiramente pedia e ele depositava na banqueta ao lado do Kawai negro que se impunha no palco principal. Dessa vez tudo no balcão.
Em um canto do bar, um dos casais se bolinava discretamente, mas não o suficiente para fugir dos olhares de Jorge que sorria levemente e me indicava o campo de visão correto: - Lazzari, perturbação na força às seis horas!
O relógio corria lento. Areta Franklin passava a mensagem de melancolia pelos alto falantes do bar, e isso com certeza só agravava minhas incomodas memórias.
Eis que de repente, pela porta principal, entrou uma figura de certa forma incomum dado o horário já avançado. Um senhor de aproximadamente quarenta anos, alto, forte, ombros largos, moreno com olhos azuis logicamente não tupiniquins.
Aproximou-se do balcão do bar, um tanto quanto atrapalhando, pegando um dicionário inglês português de dentro de seu, sobretudo e pediu de forma tímida, no entanto com um timbre de voz imponente
- Boa noite, Senhor pode me dar o cardápio, por favor?
Jorge, poliglota por necessidade, disparou:
-We can talk only in English Sr.
Nesse exato momento, o Americano aparentemente relaxou, largou os ombros e agradeceu. Pediu a Jorge um uísque que me recuso a dizer quanto custa à garrafa, e fitando-me com o olhar, perguntou-me se aceitava. Educadamente, disse que já estava tomando o uísque natural de perto de minha cidade natal. Interessado, ele pediu a Jorge que bebesse a dose de uísque servida e trouxesse para ele uma pinga de Jequerí. Prontamente servido, me propôs um brinde, que graças a meu inglês de cursinho, consegui entender direito:
- A sua saúde, a seu coração e a distância continental das minhas mágoas.
-Amém meu companheiro!
Claro, como todo bom brasileiro, a cachaça para quem sofre, como eu sofria naquela noite, desceu como bálsamo. Já para meu amigo estrangeiro, desceu tão pesada que refletiu em seus olhos, três lágrimas dos olhos azuis, duas do direito, uma do esquerdo. Cara de susto seguramos a vontade de rir, Jorge e eu, afinal um homem de quase dois metros de altura chorando configura-se como uma das cenas mais inusitadas que se pode observar em um bar.
Começamos a conversar os três. Nosso visitante contou que estava em Belo Horizonte à negócios, já que sua empresa iria oferecer um serviço de internet super rápida às forças armadas, e os ministros das telecomunicações e da defesa se encontravam na cidade para uma feira internacional de tecnologia. Era solteiro, no entanto, para auxiliar nas funções de seu trabalho, adotou três filhos, que mostrou em fotos na carteira: - Olhem! Esse é o mais velho, Dick, já não trabalha comigo, resolveu seguir meus passos de forma independente. Esse aqui é o Jason, infelizmente faleceu já há algum tempo. E o mais novo, Timothy, adotei antes mesmo de perder o pai, ainda trabalha comigo e faz faculdade de tecnologia! O garoto sabe tudo sobre computadores e telecomunicações!
A conversa perdeu totalmente a formalidade, e ele nos contou boa parte de sua vida. Tinha muito dinheiro, mas necessidade de trabalhar durante o dia, e era compulsivo em trabalhar durante a noite. Tinha dois empregos. Não tinha parentes próximos vivos. E nesses dias em que viajava e ficava fora, sentia-se na obrigação de trabalhar a noite também, no entanto não dominava bem o ambiente em que se encontrava.
Em retribuição, contei-lhe a minha vida de professor e consultor, a rotina das aulas e palestras, o café ruim, e um sem número de atividade sem emoção do meu dia a dia.
Foi então que ele me disse algo que ficaria marcado pra sempre em minha cabeça e em meu coração: Faça o que nasceu pra fazer, ou o que o mundo que te cerca te forçou a fazer. Você pode não encontrar prazer, mais paralisa um pouco a sua dor.
Quase duas da manhã, eu estava ligeiramente bêbado, ele tirou o cartão de crédito sentindo-se obrigado a pagar a conta, ainda mais alcoolizado do que eu. Jorge foi passar o cartão do Americano, quando pela porta entrou um senhor já de idade, terno inglês, calvo com um bigodinho estilo malandro carioca. Meu novo amigo dirigiu-se a ele:
-Alfred! Veio me buscar? Eu já estava indo, mas ainda bem que você veio, não estou em condições de dirigir hoje.
-Certamente Senhor! Avisei-lhe que as bebidas dos trópicos são mais poderosas que as de nossa adega.
Jorge voltava com o cartão e constrangido, disse que ele havia sido recusado por ser de bandeira diferente, embora fosse um pouco parecido com o American Xpress.
- Pode deixar Jorge! Abate no meu cachê de semana passada aí que o cara é gente boa!
O americano, constrangido, aceitou que eu pagasse a conta, quebrou o cartão com raiva e jogou em um cinzeiro. Escorado em seu Motorista, despediu-se educadamente, dizendo que voltaria outro dia, o motorista desejou boa noite e saíram.
Já na porta, gritei: Hei amigo, não sabemos seu nome!
- Bruce! Até mais companheiros...
E saíram pela porta rumo a um carro preto do outro lado da rua.
Jorge limpava o balcão com a toalha, os casais já haviam partido somente nós dois estávamos no bar. Esperei que ele terminasse seu serviço, pra irmos embora juntos, ele iria me dar uma carona.
Quando pegou o cinzeiro, olhou as metades do cartão, e fez uma observação:- Ghotan Xpress? Esse eu não conhecia! Deve ser de alguma financeira, sei lá...
E vai saber? Terminou de arrumar o balcão, fechou o bar e me levou pra casa.
Antes de deitar, refleti na frase que o Sr. Bruce me disse:”: Faça o que nasceu pra fazer, ou o que o mundo que te cerca te forçou a fazer. Você pode não encontrar prazer, mais paralisa um pouco a sua dor.”
Abri a gaveta do criado, dei uma ultima olhada na foto dela, fiz uma oração e decidi trabalhar muito no dia seguinte, assim iria doer menos à distância.
Por volta de oito horas da manhã, levantei atrasado, e só quando cheguei a minha sala no serviço me dei conta do acontecido.
- Puta Merda! Paguei a conta do Batman!