quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Soneto de repúdio

Soneto de repúdio


Agora que atormentas novamente
A calmaria inerte dos meus sonhos
Delírio que acordado me acomete
De prazer e sofrimentos enfadonhos

No entanto a euforia de saber
Desesperadamente com saudades
Faz valer cada minuto de sofrer
Que navegas somente por tempestades

Que o doce do teu choro me contenta
E que a paz desse teu sono nada passa
Desesperadamente quis a sorte

Que hoje lentamente me atormenta
Sei que a tua felicidade não me basta
Prefiro a companhia da tua morte


(De Lazzari)

domingo, 3 de outubro de 2010

um perfil diferente de texto..rs

Abandono hoje, a métrica, meus versos mais elaborados, e bebo da convencionalidade da trilha sonora da minha vida. Ecletismo musical? Nada.... apenas trechos que demarcam um novo sentido em gostar e se relacionar... de Raul a Kelly Key... Roberto Carlos a Wando... Odaír José a Zeca Baleiro....
o sentimento mais pleno, é o amor....

Basicamente sou, um pouco de cada idéia, um misto das verdades de vários artistas...

As vezes você me pergunta, porque é que eu sou tão calado?
Eu sou apenas um rapaz, latino americano sem dinheiro no banco
e prefiro ser, essa metamorfose ambulante
e quando eu estiver triste, simplesmente me abrace
pois quando você vem, pra passar o fim de semana eu finjo esta tudo bem, mesmo duro ou com grana
mas se você pretende, saber quem eu sou, eu posso lhe dizer
que detalhes tão pequenos de nos dois, são coisas muito grandes pra esquecer
e sexo verbal,não faz meu estilo, palavras são erros e os erros são seus
pois todo carnaval tem seu fim, todo carnaval tem seu fim e no fim é o fim
quem é mais sentimental que eu? eu só aceito a condiçao de ter você só pra mim...
as vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois
pois você é luz, é raio e estrela e luar
e novamente, as vezes você me pergunta, quem sabe ainda sou uma garotinha?
respondo: você foi, o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci
Pare de tomar a pílula, pare de tomar a pílular
me abrace e me de um beijo, faça um filho comigo
e vc me diz: tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você....baba, olha o que perdeu, baba a criança cresceu, bem feito pra você agora eu sou mais eu!
o mama o mama o mama, eu quero ser seu, eu quero ser seu, eu quero ser seu papai...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os nomes

Os nomes

(Thiago De Lazzari)

Era pra lembrar-me de tudo
No entanto de tudo me esqueço
Como nomear o que sinto
Se encontro no fim, meu começo?
Como se chama essa dor ?
Chama-se então de meu pranto!
E no meu espanto, qual nome tem quando passa?
Chama-se então, contentamento.
Logo depois, me recordo,
Da calmaria antes da tempestade
Como se chama esse vazio?
Chama-se então, saudade
Então, ao abrir a janela, o teu sorriso já vejo
O brilho dos teus olhos, a doçura desse beijo,
Como se chama essa lógica?
Chama-se então, de delírio
Pra cada segundo sem ela,
Todo tormento que era
Como se chama essa vida?
Tem o mesmo nome que ela....

terça-feira, 22 de junho de 2010

Esse veio de um sonho que tive hj a noite

Dia 20



Nefasto, dia cinzento
E da cor do céu refletia
Por sobre aquele cortejo
Farpas de ilusão ,nostalgia
Eu quis olhar mais de longe
O caminhar tão pesado
Tem tanta gente seguindo
Mas não há ninguém a meu lado
Ouço os passos que tocam o chão
O som gorjeado dos pássaros
As preces de meus amigos
Ecoam no tempo e espaço
Resolvo me aproximar
Não há ninguém a meu lado
Eu reconheço meus primos
E moças de olhar assustado
Gente que há tempos não via
Portando olhar consternado
Ao fundo a montanha desenha
Um nefando e soturno cenário
O mármore cru refletia
A verdade do céu acinzentado
Enquanto o cortejo seguia
Eu ia de encontro aos primeiros
Tem tanta gente seguindo,
Mas não sinto ninguém a meu lado
Então de repente percebo
As mãos que seguram a urna
Na frente meu irmão e meu tio
Atrás meu pai e o vigário
então desceram a urna
meus pais choraram sentidos
e os meus amigos falavam
tem tanta gente rezando
mas não sinto ninguém a meu lado
até que enfim percebi
enquanto o caixão descia
eu percebi quem jazia
na hora em que a urna desceu
então assustado eu via
que o corpo ali, era o meu....

Até que a sanidade se vá por completo....

Até que a sanidade se vá por completo....

O mesmo movimento. Levantar o copinho, levar até a boca e disparar a pinga o mais rápido possível. Sem caretas. Ignorar o limão ou o sal, porque você não quer que seja bom, você quer ser sedado.
Na virada de uma dose de cachaça, consigo repassar toda a minha vida nos últimos 3 anos. E que belo exemplo de ser humano eu fui. Abri portas e delas saíram coisas que sequer poderia imaginar. Fiz tanta gente chorar, e tanta gente sorrir. Passei por cada coisa, tanto desaforo e tanta demagogia. Eu vi, eu fui, e cá estou. Todos os flashes da minha vida em 3 segundos.
Sentado aqui, eu vejo gente que entra no bar, que sai, vejo quem eu quero, e quem eu não quero. Vejo quem quero ver que me veja, e rezo pra não ser visto. Engraçado aonde a vida me colocou. Eu cumpri minha missão, comecei a trilhar um caminho diferente, e em uma grande reviravolta da vida, caio no mesmo lugar, pra mais 3 anos.
Aqui, eu enfrentei meus maiores desafios, tive as maiores conquistas, e hoje, especificamente hoje, vejo aquele paraíso que todos adoram se tornar meu inferno. Conheço todos os bêbados, sou conhecido por todas as vagabundas, todos os professores, por gente inteligente e gente que não deve ser gente mas se parece muito. Vejo crescer minha popularidade. Semeio o que tem de bom pra ser semeado, e na medida do possível arranco certas ervas daninhas, danadas.
Então, quando me vir sentado novamente no balcão do bar, evite comentários do tipo, nossa... esse cara bebe pinga como ninguém. Não é verdade. Quando a sanidade começa a ir embora, aqueles são 3 segundos que me fazem ver o que fiz de bom e o que fiz de mal. É uma reflexão. Vim, vi e venci. Até na derrota, você pode ser um vencedor em potencial. Quem vence a morte duas vezes, merece seu paraíso de 3 segundos.
Até que a sanidade se vá por completo...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Herói ( escrito em março de 2009)

E eu fico ali, parado na janela, olhando pra metade de uma lua que brilha no céu
Eu penso, se você ta com fome, se ta com frio,
Se fez suas tarefas, se comeu direito
Se tomou seu remédio na hora certa, ou se bebeu por cima dele e estragou um tratamento.
Se está voltando tarde pra casa, sozinha, se na hora de deitar, se cobriu direito.
Quando fica triste, e me procura, eu já tenho escolhidas as palavras pra fazer o seu errado o certo, da sua tristeza, alegria, dos seus pesadelos, apenas pedaços de tempo em que você ficou longe da realidade que tento fazer a mais doce pra você .
Quando tem vontade, eu tento matar . Um docinho, um salgado, uma bebida, um verso.
Quando tem dor, e estamos sem dinheiro pro remédio, deito do teu lado implorando pra algum deus tirar essa dor de você e passar pra mim, porque mesmo me contorcendo, quando olho sua carinha de quem está bem, tenho meu bálsamo.
Se some por cidades diferentes, ou lugares em que não poderei estar, minha ansiedade vem do fato de temer que alguma coisa te aconteça. E quando me chama de chato, tento entender, afinal, é ruim ser assistido com tanta cautela por alguém que não seja pai ou mãe.
Se tem fome, o que graças a Deus não acontece com freqüência, grana curta, eu deixo o cachorro quente e o refrigerante pra você, e vou dormir com a barriga roncando, pelo simples prazer de te ver com o canto da boca sujo de maionese e pela expressão de satisfação no seu rosto.
Eu procuro estar sempre no lugar certo e na hora certa, como um cachorro vigilante, daqueles das montanhas geladas que salvam esquiadores.
Engulo o choro. Estufo o peito e finjo que sempre ta tudo bom, ou tudo bem. Não é pensar mais em você que em mim, eu só quero ser o seu super herói... sempre....

terça-feira, 8 de junho de 2010

poema de 2007, feito em guardanapo pra menina em bar...

Ansioso... espero horas e horas
Do brotar ao desmantelar das rosas
Soturnas flores belas que se partem
Então de repente percebo
Relutante absorto em medo
Que horas não passam e rosas não nascem
Então como se o mundo inteiro parasse
Volto a esperar você
Antes da lua crescente, tinha um coração descontente
Quero caír em tentação dessa vez
Sussuro seu nome como se cantasse
Uma música rara e difícil de esquecer
Quero matar mais rosas, entorpecido a horas
Sentir minha razão enlouquecer
Procurando versos e esculpindo sonhos
E desses ilusórios sonhos sonhar em ter
E entregar-me insano a nossas vontades
Conquistar o mundo... fascinar você...

O tamanho de um Homem

E que tamanho tem um homem?
Tem o tamanho do amor pela mulher que ama
O tamanho da duração das tentativas
E do sonho que sempre teve
Só muda de tamanho, quando deixa
Ficando pequeno como uma laranja
Ou grande como um dinossauro.
Afinal que tamanho tem um homem?
Ele passa pelo buraco de uma agulha,
Se arrasta por debaixo de uma porta
E tromba de frente com o Cristo Redentor
Troca lâmpada em poste,
Se afoga numa conversa afiada
Nada depois numa lágrima.
Constrói teu lar com cinco grãos de areia
Se aquece com uma vela
Depois destrói um castelo de gigantes
Entende? A vontade do homem determina teu tamanho
e sempre é mais difícil pisar em gigantes, que em gnomos...

sábado, 5 de junho de 2010

O dia em que paguei a conta pra alguém muito mais rico que eu

Era quarta-feira. Depois de um estafante dia de trabalho, com repetidas horas de diplomacia verbal, sorrisos forçados, do café ralo e doce (tática das grandes empresas para um maior rendimento do pó de café, não muito inteligente, pois o açúcar não anda tão barato assim), da secretária de voz fina batendo toda hora na porta de sua sala pra anunciar seus clientes.
Costumeiramente, gosto de sair quando todos já se foram. Na terceira gaveta da minha Workstation, lá no fundo, fica guardada uma uisqueira de aço inox, presente de amigo oculto do pessoal do serviço, que sempre tem em seu interior o cachorro engarrafado, melhor amigo do homem, segundo o sábio Vinícius de Moraes, terapeuta sexual de todo brasileiro dotado de cultura e altos índices de libido literária.
Depois do farto gole, uma balinha de menta, pasta pendurada como todo bom professor costuma carregar, entrei no elevador. Trabalho no oitavo andar de um grande edifício na Avenida Afonso Pena, próximo ao Palácio das Artes. Geralmente voltaria para casa a pé, moro perto do serviço, no entanto, essa quarta feira em particular estava difícil de engolir. Muitas memórias da minha recém terminada vida de estudante no interior voltaram com força e tiraram qualquer possibilidade de sono. Eram 19 horas. Caminhei até o ponto de ônibus, embarquei rumo a Savassi. Destino certo, o piano bar em que eu tocava como pianista convidado duas quintas feiras por mês.
Mas era quarta-feira. Dia da semana internacionalmente conhecido como dia morto. Ainda mais quando chove. E choveu o dia inteiro. O asfalto molhado, o clima levemente frio de maio e o céu avermelhado anunciando uma nova chuva tornaram o glamour da região em clima de filme noir. Bar adentro três casais, sentados em mesas remotas do bar. Resolvi tomar acento em um banco diferente do que sempre me sentava dessa vez bem longe do piano, no balcão.
- Boa noite Lazzari,
- Boa noite Jorge.
Jorge era um senhor simpático, com seus cinqüenta anos, casado, sem filhos, sempre cordial. Serviu-me sem demora o campari com laranja, o potinho de amendoim e a cachaça de Jequerí, que costumeiramente pedia e ele depositava na banqueta ao lado do Kawai negro que se impunha no palco principal. Dessa vez tudo no balcão.
Em um canto do bar, um dos casais se bolinava discretamente, mas não o suficiente para fugir dos olhares de Jorge que sorria levemente e me indicava o campo de visão correto: - Lazzari, perturbação na força às seis horas!
O relógio corria lento. Areta Franklin passava a mensagem de melancolia pelos alto falantes do bar, e isso com certeza só agravava minhas incomodas memórias.
Eis que de repente, pela porta principal, entrou uma figura de certa forma incomum dado o horário já avançado. Um senhor de aproximadamente quarenta anos, alto, forte, ombros largos, moreno com olhos azuis logicamente não tupiniquins.
Aproximou-se do balcão do bar, um tanto quanto atrapalhando, pegando um dicionário inglês português de dentro de seu, sobretudo e pediu de forma tímida, no entanto com um timbre de voz imponente
- Boa noite, Senhor pode me dar o cardápio, por favor?
Jorge, poliglota por necessidade, disparou:
-We can talk only in English Sr.
Nesse exato momento, o Americano aparentemente relaxou, largou os ombros e agradeceu. Pediu a Jorge um uísque que me recuso a dizer quanto custa à garrafa, e fitando-me com o olhar, perguntou-me se aceitava. Educadamente, disse que já estava tomando o uísque natural de perto de minha cidade natal. Interessado, ele pediu a Jorge que bebesse a dose de uísque servida e trouxesse para ele uma pinga de Jequerí. Prontamente servido, me propôs um brinde, que graças a meu inglês de cursinho, consegui entender direito:
- A sua saúde, a seu coração e a distância continental das minhas mágoas.
-Amém meu companheiro!
Claro, como todo bom brasileiro, a cachaça para quem sofre, como eu sofria naquela noite, desceu como bálsamo. Já para meu amigo estrangeiro, desceu tão pesada que refletiu em seus olhos, três lágrimas dos olhos azuis, duas do direito, uma do esquerdo. Cara de susto seguramos a vontade de rir, Jorge e eu, afinal um homem de quase dois metros de altura chorando configura-se como uma das cenas mais inusitadas que se pode observar em um bar.
Começamos a conversar os três. Nosso visitante contou que estava em Belo Horizonte à negócios, já que sua empresa iria oferecer um serviço de internet super rápida às forças armadas, e os ministros das telecomunicações e da defesa se encontravam na cidade para uma feira internacional de tecnologia. Era solteiro, no entanto, para auxiliar nas funções de seu trabalho, adotou três filhos, que mostrou em fotos na carteira: - Olhem! Esse é o mais velho, Dick, já não trabalha comigo, resolveu seguir meus passos de forma independente. Esse aqui é o Jason, infelizmente faleceu já há algum tempo. E o mais novo, Timothy, adotei antes mesmo de perder o pai, ainda trabalha comigo e faz faculdade de tecnologia! O garoto sabe tudo sobre computadores e telecomunicações!
A conversa perdeu totalmente a formalidade, e ele nos contou boa parte de sua vida. Tinha muito dinheiro, mas necessidade de trabalhar durante o dia, e era compulsivo em trabalhar durante a noite. Tinha dois empregos. Não tinha parentes próximos vivos. E nesses dias em que viajava e ficava fora, sentia-se na obrigação de trabalhar a noite também, no entanto não dominava bem o ambiente em que se encontrava.
Em retribuição, contei-lhe a minha vida de professor e consultor, a rotina das aulas e palestras, o café ruim, e um sem número de atividade sem emoção do meu dia a dia.
Foi então que ele me disse algo que ficaria marcado pra sempre em minha cabeça e em meu coração: Faça o que nasceu pra fazer, ou o que o mundo que te cerca te forçou a fazer. Você pode não encontrar prazer, mais paralisa um pouco a sua dor.
Quase duas da manhã, eu estava ligeiramente bêbado, ele tirou o cartão de crédito sentindo-se obrigado a pagar a conta, ainda mais alcoolizado do que eu. Jorge foi passar o cartão do Americano, quando pela porta entrou um senhor já de idade, terno inglês, calvo com um bigodinho estilo malandro carioca. Meu novo amigo dirigiu-se a ele:
-Alfred! Veio me buscar? Eu já estava indo, mas ainda bem que você veio, não estou em condições de dirigir hoje.
-Certamente Senhor! Avisei-lhe que as bebidas dos trópicos são mais poderosas que as de nossa adega.
Jorge voltava com o cartão e constrangido, disse que ele havia sido recusado por ser de bandeira diferente, embora fosse um pouco parecido com o American Xpress.
- Pode deixar Jorge! Abate no meu cachê de semana passada aí que o cara é gente boa!
O americano, constrangido, aceitou que eu pagasse a conta, quebrou o cartão com raiva e jogou em um cinzeiro. Escorado em seu Motorista, despediu-se educadamente, dizendo que voltaria outro dia, o motorista desejou boa noite e saíram.
Já na porta, gritei: Hei amigo, não sabemos seu nome!
- Bruce! Até mais companheiros...
E saíram pela porta rumo a um carro preto do outro lado da rua.
Jorge limpava o balcão com a toalha, os casais já haviam partido somente nós dois estávamos no bar. Esperei que ele terminasse seu serviço, pra irmos embora juntos, ele iria me dar uma carona.
Quando pegou o cinzeiro, olhou as metades do cartão, e fez uma observação:- Ghotan Xpress? Esse eu não conhecia! Deve ser de alguma financeira, sei lá...
E vai saber? Terminou de arrumar o balcão, fechou o bar e me levou pra casa.
Antes de deitar, refleti na frase que o Sr. Bruce me disse:”: Faça o que nasceu pra fazer, ou o que o mundo que te cerca te forçou a fazer. Você pode não encontrar prazer, mais paralisa um pouco a sua dor.”
Abri a gaveta do criado, dei uma ultima olhada na foto dela, fiz uma oração e decidi trabalhar muito no dia seguinte, assim iria doer menos à distância.
Por volta de oito horas da manhã, levantei atrasado, e só quando cheguei a minha sala no serviço me dei conta do acontecido.
- Puta Merda! Paguei a conta do Batman!

sábado, 3 de abril de 2010

leve lembrança de quarta feira

Pra ser sincero, eu e meu cigarro concordamos a muito, que no final, era igual. Pra quê tanto perdão por nada, pra se tocar sozinho a solidão duma parede fria, um copo de café e uma janela aberta mostrando um céu que já foi dado tantas vezes?
Num gesto simples, abro a carteira, tem passado. Visto uma camisa, tem passado. Conheço uma garota, tem passado. Tomo todas as cervejas geladas de uma noite em viçosa e a vida vai passando.. lenta.... uma vontade de voar que sempre aumenta.
Num emaranhado de livros e artigos, vou malhando a cuca, tomando um vinho de leve, suspirando e falando um monte de bobagens, sozinho, pra ninguém ouvir, mas preciso falar. Tanta coisa pra desabafar e nenhum ouvinte qualificado. Cadê meu celular?
Então me deito. Teto de quarto igual a tela de cinema, passando um filme que já to de saco cheio de assistir, me levanto. Na sala, a janela e o mesmo céu, saída estratégica pela porta e ganho a minha rua. Escura. Triste, tem passado. Daí me pego passeando sempre pelo mesmo local, chutando latinhas e olhando pra aquela árvore que mutilei colocando um coração com duas iniciais. Ando um pouco mais, compro uma latinha no trailer perto do hospital, volto lentamente procurando o que não tenho muita vontade de encontrar. Se encontro, é só diversão, pra no dia seguinte olhar o céuzinho batido de novo... se não encontro, olho pros lados, paro em frente a senhora árvore e peço do fundo dessa alma atormentada, desculpas... por ter gravado nela algo tão meu. E ela me responde em pensamento : eu peço desculpas, pois o que escreveu em mim, escreveram em seu coração. Minha casca cai, pode ser trocada, mas o que rabiscaram dentro de você dói todos os dias. Ainda bem que humanos vivem menos...
Ou no meu caso, vão viver um pouco mais...demais.... no entanto.. pra pagar o preço ou endurecer como o tronco da árvore....

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Maldita memória!

As mãos tremem. Chega a dar desequilíbrio. Ao fazer a barba hoje de manhã, reparei na água que corria na pia rumo ao ralo, uma pequena e delicada linha de sangue. Cortei-me perto do queixo. Depois de meia hora de água quente caindo pelo corpo, de braços apoiados na parede do banheiro, e soluços abafados pelos azulejos, se cortar não dói tanto. A dor interna é sempre maior. Colocar a mão na consciência e perceber que tempo perdido não volta. Limpei o rosto, a pia, vesti o roupão e fui escolher a roupa.
Uma camisa de malha, uma calça jeans e tênis preto. Pronto. Nem mais luxo que ontem, nem menos que amanhã. A mesma trajetória de sempre, evitar os locais em que tive história. E fica difícil porque foram tantas histórias e tantos lugares.
Troquei de padaria, de jornal, de perfume, mas não de coração e de memória. E numa dessas brisas entre sete e oito horas da manhã, sempre consigo sentir o cheiro da flor que ela mais gostava. Converso com o velho do banco, que sempre está sentado ali, jogando milho pras pragas urbanas que são as pombas, passo perto da igreja, escuto o sino, e vejo que nem sei o nome do velho que conheço há oito meses. Continuo meu caminho.
Saber que no trabalho, tenho que esculpir um sorriso no rosto, sem a matéria prima “felicidade”, e que tenho que falar, falar, falar sem parar pra segurar a atenção dos meus clientes, me faz tremer ainda mais. Já tomo café sem adoçante pra assimilar o amargo com o da minha rotina. E de repente, uma vontade de abrir a janela e voar, sem me preocupar com tudo que me cerca e me força a lembrança.
Almoçar. Tornou-se um ato tão comum, que tudo que venha a repousar dentro do prato, tem o mesmo gosto, gosto de “nó” na garganta. Entra na fila, pesa, senta, come, levanta sorri para a menina do caixa, paga e volta pro serviço.
Às seis horas, volto pra casa, abro a geladeira, tomo uma latinha de cerveja faço carinho na cachorra, troco de roupa e saio novamente, pra sentar em algum lugar, tomar mais uma cerveja e olhar pro céu, o mesmo céu que cobre o meu mundo e que continua cobrindo o dela, e o mais interessante: eu estou lembrando!
Nesse esforço constante de largar a memória, eu sequer tenho consciência de que é mais fácil apagar o mundo inteiro, que apagar algo tão aterrador, marcante, que vai consumindo a alma, focalizando o passado e destruindo externamente, muita coisa além do meu rosto cortado pela navalha, meu gosto pela comida ou a história dos lugares.
E se por ventura, me esqueço algumas horas do passado, todo santo dia, na frente do espelho, a mão volta a tremer, e o olhar que me encara, é a maior razão de eu me lembrar de tudo. Sem essa memória, talvez nem seja eu...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Eu te amo????

Aproximadamente vinte e três horas e cinqüenta e sete minutos, de um entre tantos dias de início de ano, no qual o calor parece subir pelo chão oriundo do próprio inferno. Na mão direita, uma lata de cerveja, no canto da boca um sorriso solitário. Daqui de cima desse terraço eu vou espiando a rua, começando a ficar mais calma, fato comum em dias de semana de uma cidade interiorana.
Puxo a cadeira de palha trançada, antiga, palha trançada sobre canos de ferro, histórica, palha trançada em cima do suor de algum artesão que sequer vi quem era, ou quem foi, já que a cadeira é muito mais velha que meus 27 verões. No mp4, sambas de Noel Rosa na voz de Ivan Lins, coletânea que conheci a muitos anos no som do carro de um tio em uma das viagens pra capital.
Na cabeça, um nó, uma confusão mental que contrastava diretamente com a calmaria da paisagem. Na contramão da cidade que vai dormir, eu desperto. E no sentido oposto da singela expressão “eu te amo” eu questiono.
Porque acho tão difícil dizer isso? Porque acho tanta aberração no sentido que as pessoas a meu redor utilizam essa expressão? Procurar expressar os sentimentos através de uma frase tão sagrada.
Para poucas pessoas nessa encarnação eu disse essa frase sem dificuldades. E até hoje me pergunto se eu deveria ter dito. Acho q sou diferente. Amo, meu pai, minha mãe e meus irmãos. Fui apaixonado por algumas mulheres, e algumas vezes acho que cheguei perto de amar. E hoje vejo várias vezes todo mundo amando todo mundo, na rua, nos papos de bêbado, na “rede”. O discurso é sempre o mesmo: eu amo isso, eu amo lápis, eu amo carne, eu amo você.
. Pessoas amam cobiçar o que é das outras. Amam implantar desconfiança. Amam aquilo que sequer tem sentimento pra entender o verdadeiro significado de se amar. Nem mesmo o poeta contemporâneo tem a capacidade de amar como em outros tempos.
O que refleti meu caro leitor, nessa madrugada sentado na cadeira de palha trançada, é que banalizaram uma das coisas mais puras, que nossos pais carregavam com tanto carinho e tentaram transmitir pra nossa geração: o ato de amar.
Ame seus pais. Ame sem pedir nada em troca. Ame de forma pura, e principalmente, ame a si mesmo. Amar não é dizer, e é feio dizer quando não se ama. Não diga que ama se você carrega na outra mão uma faca para enterrar nas costas. Não ame se não for com toda força. Traga pra si quando amar e se preciso for, renuncie por quem se ama.
Renato Russo, dizia que precisamos amar como se não houvesse o amanha, e o que mais vejo pelas pessoas que amam, é que elas amam sem pensar no amanha coletivo, ou do outro. Platão mesmo definiu que a forma mais sincera de amar, é amar desprendido de egoísmo, amar o outro e não pelo outro.
Sigo “amargurado” como já me disseram, mas portador do tradicional método das gerações de nossos pais. Eu tento dizer eu te amo somente quando sinto, e ainda trava na barreira da língua. É fácil provar o amor com palavras, é trivial.
Prove com ações. Ame fazendo. Ame respeitando. Se machuque amando, mas não machuque quem você ama.